Uma seleção mais velha quatro anos – 1962
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Enquanto o Chile
se preparava bravamente para organizar o mundial, o Brasil também preparava,
dentro dos moldes muito parecido com os de 1958, a seleção que iria tentar o bi
campeonato. A comissão técnica era quase a mesma. Lá estavam o chefe da
delegação Paulo Machado de Carvalho. O supervisor Carlos Nascimento. O médico
Hilton Gosling. O preparador físico Paulo Amaral e o dentista Mário Trigo. Todos
campeões em 1958. Havia, porém, duas modificações. A primeira foi a substituição
de Vicente Feola por Aymoré Moreira. Feola estava se recuperando de uma nefrite
aguda e foi proibido pelos médicos de assumir os duros encargos de um técnico da
seleção. Aymoré era uma indicação de Paulo Machado que estava cheio de confiança
para a campanha no Chile. Entretanto, muita gente não concordava com o
entusiasmo do chefe da nossa delegação por Aymoré Moreira. O substituto de Feola
tivera uma desastrosa passagem pela seleção no sul-americano de 1953, em Lima,
quando andou mexendo na seleção como um curioso, se envolveu numa briga com
Zizinho e, terminou perdendo o titulo para os paraguaios. Além disso, diziam que
Aymoré falava demais. A Segunda, a saída do psicólogo João Cavalhares. Ele tinha
medo avião e, ainda por cima, nos momentos de maior tensão da Copa de 1958, ele
é que tremeu. Foi contratado o jovem professor Ataíde Ribeiro. Ele não se
apegava muito a teoria, preferindo aceitar, inteligentemente, o imponderável
futebol. Não se preocupava com a doce ingenuidade de Garrincha, a espantosa
frieza de Gilmar, a assustadora agressividade de Amarildo. Durante os
treinamentos visitava a concentração, conversava com jogadores, participando de
todo o processo de preparação.
Para Ataíde Ribeiro e o resto da comissão técnica, aquele relatório sigiloso de
1958, com suas teorias a respeito do temperamento do jogador negro, era coisa do
passado. O próprio Ataíde, depois da Copa, escreveu um livro sobre sua
experiência como psicólogo da seleção brasileira, e nele comenta com muito
entusiasmo da personalidade de vários jogadores negros como Pelé, Djalma Santos,
Zózimo e Jurandir que faziam parte do plantel de 1962. Aymoré não tinha
tendências racistas e estava provado na própria escalação do time da estréia
quando, Djalma Santos. Zózimo, Garrincha e Pelé, estavam nos lugares que quatro
anos antes pertenciam aos brancos De Sordi, Orlando, Joel e Dida. Aymoré Moreira
podia ser um treinador discutível, falar demais, meter de vez em quando, os pés
pelas mãos, mas suas virtudes ninguém podia negar. O técnico jamais acreditara
naquela diferença entre negros e brancos e, mais que Vicente Feola, conhecia
profundamente o futebol.
Durante dois meses a seleção se preparou para o mundial no Chile. Muitos
problemas aconteceram nesse período, principalmente por causa do excesso de
convocados com muitas reclamações dos principais clubes do Brasil. O Flamengo
não entendia porque Joel e Dida estavam de fora. O Corinthians ficou
inconformado com a não convocação de Oreco. Choros desse tipo se repetiram na
hora dos cortes. O São Paulo achou injusto o corte de Bené. O Flamengo gritou
porque Germano sobrou. O Corinthians esperneou quando Nei foi dispensado. Com a
definição dos vinte e dois jogadores, Aymoré Moreira conseguiu trabalhar com
mais tranqüilidade e definir como equipe base, o time campeão em 1958. Mesmo
assim, nos treinamentos, o técnico deu chances a todos os convocados. A cada
jogo amistoso ele apresenta novas formações. Vává ou Coutinho. Mauro ou Belini.
Pepe ou Zagalo. O meio campo com Zito e Didi, tinham honras de titulares
absoluto. Entretanto, três modificações se impunham de forma quase indiscutível.
Uma delas, a de Zózimo no lugar de Orlando que estava jogando no Boca Junior. A
outra, Pepe substituiria Zagalo. Nos treinamentos, o santista sempre se
apresentou com melhor rendimento. Mas, Zagalo estava acostumado a jogar com
Nilton Santos no Botafogo, sempre ali recuando, peneirando certas jogadas para o
velho Nilton Santos. Talvez essa fosse a melhor opção, permitindo a seleção
jogar dentro de um 4-3-3 com proteção especial pelo lado esquerdo da defesa. A
terceira seria a entrada de Mauro no lugar de Belini que continuava sendo o
grande líder, mas o zagueiro do São Paulo estava atravessando uma grande fase.
Aymoré pensava, anotava e esperava decidir tudo em Vinã del Mar.
Todas essas questões foram resolvidas por si mesmas. A entrada de Zózimo no
lugar de Orlando já estava decidida, uma vez que Jurandir, tecnicamente muito
bom, mas não tinha a experiência de jogador do Bangu. A escolha entre Pepe e
Zagalo, tornou-se quase automática a partir do momento em que o ponta do Santos
começou a sentir estranhas dores musculares na coxa. Examinado, Dr. Hilton
Gosling não soube precisar, mas teve fortes razões para concluir que Pepe, na
verdade, não estava preparado emocionalmente para entrar no time. E Zagalo foi
escalado. Com relação a zaga central, Mauro vinha atuando como titular nos
últimos amistosos. Mas, na estréia, o zagueiro seria Belini. Ao saber disso,
Mauro procurou Aymoré Moreira para saber qual a razão de sua barração. O técnico
ponderou que não era uma barração. Apenas queria começar a Copa com o a base da
equipe de 1958. O zagueiro disse que lutava pela posição desde o mundial passado
e não ia aceita ficar de fora agora que tinha jogado como titular na maioria dos
amistosos. A reclamação de Mauro chegou aos ouvidos de toda comissão técnica.
Aymoré conversou com Paulo Machado que ouviu a opinião de Carlos Nascimento.
Muita gente falou e Mauro terminou ganhando a posição.
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