Parreira - de burro a herói em 1994

 

Desde 1974 que o futebol começou a pincelar com sua arte um esquema defensivo bem organizado, onde a grande estrela não seria o meio campo, mas o libero. Enquanto o mundo se adaptava ao novo sistema, o Brasil não conseguia pegar o espírito da coisa. Jogadores como Dunga mandava a favas qualquer pretensão artística em troca de resultados. E ele provou que futebol competitivo também pode ser jogado com arte. A arte que lhe faltava era compensada pela aplicação tática e o foco concentrado no jogo.

Entretanto, nem todos defendiam o levantamento de barreiras contra a importação desta novidade. Um dos poucos que apoiaram a liberação foi Carlos Alberto Parreira. Os torcedores ficaram roucos de gritar por uma linha de ataque com Romário. Bebeto e Ronaldinho. Não importa os nomes dos atacantes escalados pelo povo, o importante é que se estava novamente, entrando no saudosismo do velho 4-3-3, já obsoleto. Diante da recusa de Parreira, a rouquidão da torcida piorou depois do coro de “Burro. Burro” com que se brindou o técnico. Sob certos aspectos estavam certos. Em algumas culturas a figura do burro, ao contrário de simbolizar estupidez, revela a teimosia diante da adversidade, a tenacidade. Parreira, neste caso, é burro. Carregou pedras nas costas, mas depois trouxe a Copa na caçamba.

Parreira foi herói para poucos e vilão para muitos. Durante a Copa nos Estados Unidos a seleção jogou à sua imagem e semelhança, demonstrando uma sólida aplicação tática. Uma equipe que não correu riscos, se contentou com qualquer resultado, desde que ele indicasse o triunfo. Uma seleção conservadora, sem ousadias, precisamente como seu técnico. Para Parreira, todos conheciam as táticas e técnicas. Depois, observou que a superioridade técnica do futebol brasileiro não era mais flagrante a ponto de nos conduzir as vitorias. Finalmente, observou que o futebol deixou de ser um esporte de exibição para se transformar claramente num esporte de competição. Parreira acreditava que, as questões fundamentais desse esporte não são mais como atacar, e sim com recuperar a posse de bola, e não mais como defender, e sim como obter espaços para ataques e defesas.

 

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