O primeiro herói do Brasil - Leônidas da Silva

 

Em Copas do Mundo, o primeiro herói brasileiro foi o lendário Leônidas da Silva. Na Copa de 1938, o Brasil e o mundo acompanhavam, maravilhados o futebol do Diamante Negro.

O Brasil todo estava com a atenção no rádio. A palavra então pronunciada era estática, ruído chato, que lixava os ouvidos, e fragmentava a narração do locutor Gagliano Neto. A transmissão vinha de Estrasburgo, França, muito longe, e muito sofrida pela ansiedade. Nas Copas de 1930 e 1934, o rádio era um artigo de luxo e não chegara ao povão. Mas, em 1938, geralmente e, formato de igrejinha, ele já era objeto encontrado em todos os lares, talvez a primeira conquista da pobreza nacional. Era um domingo quando Brasil enfrentou a Polônia. Foi a maior tarde do futebol brasileiro até aquela data. E maior também por causa de uma prorrogação que torturou a nação inteira. No tempo normal, 3x3. E a batalha prosseguiu, prejudicada pela estática da transmissão, até o suado 6x5. Na prorrogação, um tal de Leônidas, que já fizera um gol, fez mais dois. E nascia o ídolo que enfim substituiria o famoso Artur Friedenreich.

Leônidas, com 25 anos de idade, nascido no Rio de Janeiro, não era nenhum novato no esporte, inclusive participara da seleção brasileira na Copa de 1934, na Itália. Dias depois do jogo com a Polônia, o Brasil enfrentava a Tchecoslováquia. Era uma tortura ouvir o jogo que terminou com um empate de 1xl, tendo Leônidas marcado o nosso gol. Menos mal. Pelo regulamento da época, em caso de empate deveria haver um novo jogo. No segundo encontro, o Brasil foi constituído de reservas, menos dois titulares, o goleiro Valter e Leônidas da Silva. O Brasil poupava-se para a semifinal contra a Itália, dois dias mais tarde, em Marselha. Desta vez o Brasil venceu os tchecos por 2x1, com mais um gol de Leônidas, terminando o jogo cheio de esperanças
para vencer a Itália. A imprensa internacional apontava o Brasil como um dos favoritos para ganhar a Copa. Bastaria passar pela Itália. Todos os jornais europeus traziam retratos daquele que poderia garantir a nossa vitória, Leônidas, que mais parecia um homem de borracha.

No dia do jogo contra os italianos os brasileiros estavam nervosos. Naqueles tempos, a Itália, m ais que a Alemanha de Hitler, ainda não testada em conflitos bélicos, impunha respeito e temor. O que poderíamos nós contra ela, mesmo no terreno esportivo? Os otimistas, porém, sorriam: tínhamos Leônidas. Ele vencera a Polônia e Tchecoslováquia. A imprensa afirmava que ele era superior a Zarosi, famoso centro avante húngaro. E infinitamente melhor do que Piola, italiano, que marcara perto de 500 gols.

No dia do jogo uma noticia amarga começou a circular desde cedo. Leônidas não poderia jogar. Estava contundido. Ninguém queria acreditar. Era azar demais. O boato aos poucos tomava formato de noticia verdadeira. No Rio, um torcedor deu um tiro de revólver no rádio ao ouvir a noticia confirmando a ausência de Leônidas na seleção. Os comentaristas, entretanto, entretanto, procuravam injetar otimismo no publico. Nosso time era muito bom. Tínhamos Romeu, que o colunista Thomas Mazzoni considerava melhor que Leônidas. Tim, Patesco, Perácio, Hercules e o grande zagueiro Domingos da Guia. Mesmo sem Leônidas poderíamos vencer. O nome de Leônidas vendera milhares de rádios em poucos dias. Com o volume no máximo veio um choque logo no inicio. Os italianos abriram a contagem. Tudo parecia perdido, mas a seleção disputava todas, mostrando garra. Romeu estava ótimo e depressa empatou o jogo. Jamais a cidade ouvira tantos rojões e o céu parecia pequeno para tanta fumaça. Era um gol com cara de virada. Mas em um lance em nossa área, o juiz apita um pênalti duvidoso cometido pelo zagueiro Domingos da Guia no atacante Piola. 2x1 para a Itália, a desilusão e logo depois o fim do jogo. Ninguém se conformava. Muitos choravam e juravam que nunca mais torceria por futebol.

Nosso ultimo jogo foi contra a Suécia em disputa da terceira colocação. Leônidas jogou, fez dois gols e vencemos por 4x2. Com esses gols, Leônidas se transformou no artilheiro da Copa do Mundo de 1938 com sete gols. Sua volta ao Brasil foi triunfante. Tornara-se um dos três nomes mais populares no país: Getúlio Vargas |Presidente do Brasil), Orlando Silva (O cantor das multidões) e Leônidas da Silva (o craque da Copa). A publicidade via nele um nome atraente para vender produtos. Os cigarros Leônidas foram lançados com grande estardalhaço pela companhia Sudan, um dos mais importantes fabricantes do país. Até hoje existe o chocolate Diamante Negro, da Lacta.

No regresso, Leônidas assinou um novo contrato com o Flamengo, ganhando 80 contos de réis por um ano. Comprou um carro por 3 contos de reis e mudou de status. Quando Leônidas se transferiu para o São Paulo, cerca de 10 mil torcedores estavam na estação do Norte para receber o novo ídolo sanpaulino. Finalmente, no dia 24 de dezembro de 1950, um sábado à noite, no estádio do Pacaembu, aconteceu a despedida oficial de Leônidas do futebol.

 

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