Mesmo brilhante o Brasil perdeu a Copa do Mundo de 1982
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Um ano depois de participar das eliminatórias
e conquistar sua classificação para a Copa do Mundo de 1982, a seleção
brasileira ainda não estava definida. O time comandado pelo competente Telê
Santana, fez sua estréia no grupo VI contra a União Soviética, e foi marcada por
uma série de interrogações. Primeira, a própria indefinição da equipe. Segunda,
os pontos fracos que ficaram evidentes na falha incrível de Valdir Perez no gol
soviético, as indecisões de Luizinho e a falta de um homem de frente mais hábil
e menos solitário que Serginho. Mas, o Brasil venceu e as interrogações foram
colocadas de lado para se comemorar uma boa estréia. A vitória de virada e um
gol quase no final da partida, deu aos torcedores brasileiros um inicio de
delírio. Um entusiasmo que não foi menor antes, durante e depois do segundo
jogo.
Nesta segunda partida, a Escócia tentou um empate e terminou sendo goleada por
4x1. O Brasil já estava bem postado e seus craques jogavam um futebol bonito,
clássico e objetivo. Cinco dias depois, embora enfrentando a fraca Nova
Zelândia, o Brasil voltava a deslumbrar o mundo esportivo com outra grande
exibição. Os 4x0 poderia ser dobrado. A torcida brasileira se empolgava a cada
passe, a cada jogada, a cada gol do Brasil. Três jogos, três vitórias e novas
comemorações. O Brasil estava classificado juntamente com a União Soviética.
A seleção brasileira estava jogando mais do que bem. Mesmo com Telê mantendo os
três jogadores que atuaram mal na estréia – Waldir Perez, Luizinho e Serginho –
o treinador conseguiu armar um grupo muito próximo de brilhante. Falcão, Zico e
Sócrates, surgiam como as três mais importantes peças da seleção, exibindo um
futebol a altura dos campeões de 1970. Outros coadjuvantes como Junior, Leandro
e Oscar, mostravam-se quase no mesmo nível dos três principais astros da
companhia. Até um jogador limitado como Eder, teve lampejos de craque. O Brasil
era a melhor seleção da Copa. Desde de 1970, a torcida brasileira não tinha
tantos motivos para acreditar na sua seleção.
A primeira partida da nova fase foi contra a tradicional Argentina. Mais uma
grande exibição dos comandados de Telê Santana. Todas suas virtudes foram
mostradas contra os argentinos de Maradona. Valendo-se de cérebro e coração, os
brasileiros impuseram ao tradicional adversário uma derrota indiscutível de 3x1.
O delírio da torcida brasileira ficou a beira da loucura. Alguns jornais
chegaram a pedir aos torcedores moderação nas comemorações. O Brasil jogava bem
mas ainda não tinha ganho nada. O próximo adversário seria a Itália, que até ali
não convencera a ninguém, nem mesmo os próprios italianos. A imprensa havia
criticado fortemente sua seleção e os jogadores se recusavam a conversar com os
jornalista do seu país. Os brasileiros com um simples empate passariam para as
semi finais.
O jogo foi programado para o Estádio de Sarriá, em Barcelona. Enquanto jogadores
e imprensa da Itália não se falavam, o brasileiros estavam tranqüilos e
confiantes. Zezé Moreira, olheiro da seleção, passava para Telê todas as
informações sobre a seleção italiana. E Zezé pedia cautela: “O técnico Bearzot
armou um time sólido, aplicado, competitivo e que ocupava todos os espaços do
campo. A Itália seria um grande adversário”. Telê Santana escutou tudo com muita
atenção. Um comentarista de TV chegou a dizer que Zezé Moreira estava gagá .
E o jogo foi mesmo muito difícil. Naquela tarde de 5 de julho, os italianos
tiveram um desempenho surpreendente até mesmo para seu técnico Bearzot. É
verdade que a sorte esteve sempre ao lado da Itália. Apesar de ter jogado bem, o
Brasil pagou por alguns erros cometidos e que redundaram em gols. O passe errado
de Toninho Cerezo, os avanços de Junior quando o marcador nos era favorável e a
desatenção dos zagueiros no centro do escanteio que decidiram o jogo.
Entretanto, tudo isso aconteceu de surpresa, mas dentro da mais absoluta
normalidade. Uma vitória brasileira também seria absolutamente normal.
Entretanto, a sorte estava do outro lado.
De repente, tudo mudou. O Brasil, cujas ruas se haviam colorido de verde e
amarelo, se tornaram cinzentas. A alegria das comemorações foi substituído pelo
silêncio, o delírio pelo choro, o orgulho pela humilhação. Depois da Copa de
1950, era a primeira vez que a torcida brasileira fazia de uma derrota uma
frustração de dimensões trágicas. Tudo mudou com a derrota para a Itália. Até
mesmo aqueles de idolatravam o treinador Tela Santana, começaram a criticá-lo. A
imprensa, da qual se esperava equilíbrio, passou a comentar com paixão. Antes do
jogo com a Itália, jornais comentavam: “Agora podemos provar que o futebol
brasileiro é o maior espetáculo da Terra”. Depois da derrota, os mesmo jornais
sentenciavam: “Somente o primarismo infantil e teimosia poderia pensar que
nossos adversário não iriam se aproveitar da falta de um ponta direita”. Sem os
brasileiros, sem aqueles que jogaram o mais refinado futebol dos 24 países que
se apresentaram na Espanha, a Copa seguiu em frente. O publico privado dos
principais artistas do espetáculo, fez o que pôde para acompanhar com interesse
o restante dos jogos.
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