A tragédia da Copa do Mundo de 1950
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No dia 16 de julho de 1950, cumpria-se o
último capitulo da história da quarta Copa do Mundo. Uma história que começou
doze anos antes, em 1938, quando jornalista Célio de Barros, representante da
CBD no congresso da FIFA realizado em Paris, lançou a candidatura do Brasil para
organizar a Copa do Mundo de 1942. Embora Jules Rimet tivesse grande simpatia
pelos brasileiros, a FIFA deixava claro que a candidatura lançada por Célio de
Barros chegava um pouco tarde. A Alemanha, desde de 1936, quando organizara com
pleno êxito os Jogos Olímpicos, vinha pleiteando o privilégio de patrocinar a
Copa do Mundo de 1942. Claro, as duas candidaturas seriam devidamente estudadas
pela FIFA, mas era quase certo de que o Brasil teria de esperar, pelo menos, até
1946.
Um ano depois, em setembro de 1939, Jules Rimet passava com um amigo por uma
banca de jornais da Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, quando viu uma
pequena multidão se acotovelando para ler a manchete de um vespertino carioca –
“Alemanha acaba de invadir a Polônia”. A noticia traduzida pelo amigo deixava
Jules Rimet profundamente abalado. Estava no Rio justamente para estudar a
candidatura lançada um ano antes pelo Brasil. Agora, a guerra vinha mudar tudo.
Como sempre, os pensamentos de Jules Rimet concentrava-se no futebol. Mesmo
naquele momento em que as bombas nazistas eram lançadas no coração da Europa,
ele se preocupava com a Copa do Mundo. Meses depois, ao saber que a Itália
também entrara na guerra, não conseguiu evitar certas dúvidas. E a taça ? O que
farão os italianos com a taça ? Muito tempo se passaria até que Jules Rimet e o
mundo despertassem do terrível pesadelo da guerra para voltarem a viver o sonho
do futebol. E, graças a um gesto heróico do engenheiro Ottorino Barassi, a taça
escapara de desaparecer entre os escombros da guerra. Temendo que a taça fosse
definitivamente incorporada ao tesouro de Mussolini, ou mesmo caísse nas mãos
dos nazistas, Barassi, assim que estourou a guerra fugiu com a Jules Rimet para
a Suíça. A deusa alada de ouro maciço ficou guardada nos cofres da FIFA, até que
voltasse aos tempos de paz.
Em 1946, com a paz finalmente estabelecida, realizou-se em Luxemburgo o primeiro
congresso da FIFA após guerra. Com a Alemanha fora de cogitações, o Brasil
ficava como único candidato para organizar a próxima Copa do Mundo, marcada para
1949 e, um ano depois, transferida para 1950. O prefeito do Rio de Janeiro,
General Ângelo Mendes de Moraes prometeu construir um grande estádio para a
disputa do mundial. A CBD propôs a FIFA um novo sistema para os jogos que seriam
realizados no Brasil. Dezesseis finalistas distribuídos em quatro grupos de
quatro. Dentro de cada grupo, os países jogariam entre si e o vencedor do grupo
passaria para um turno final quando as quatro seleções também jogando entre si.
O campeão seria o pais que conquistasse maior numero de pontos. Em principio, a
FIFA não aceitou as mudanças. Henri Delaunay, assumira a presidência da FIFA e
achava que a mudança do regulamente ia alterar o espirito da Copa. A CBD ameaçou
retirar sua candidatura se a proposta não fosse aceita. Finalmente em 1948, tudo
foi acertado. A Copa seria mesmo no Brasil com o regulamento imposto pelos
brasileiros. E no mesmo ano começou os preparativos para construir o estádio que
seria erguido no Derby Clube. Faltavam menos de dois anos para a abertura do
mundial quando foi lançada a pedra fundamental do maracanã. Outros estádios, em
São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba e Recife, seriam ampliados ou
remodelados em poucos meses.
A quarta Copa do Mundo, se por um lado contava com duas presenças ilustres, o
Uruguai que, depois de 20 anos, voltava a lutar pela taça de ouro e a
Inglaterra, que finalmente, se filiava a FIFA. Tinha, porem, a ausência de
alguns países não menos ilustres: Hungria. Checoslováquia e Polônia nem chegaram
a participar das eliminatórias. A Áustria depois de confirmar sua presença,
desistiu. A Alemanha arrasada pela guerra, não tinha sequer uma Federação de
Futebol. Turquia, Índia e Escócia, embora tivessem assegurado suas vagas nas
eliminatórias, preferiram não viajar para o Rio de Janeiro. França, Portugal e
Irlanda, convidados para substituir essas vagas, não aceitaram. Na América do
Sul, desistiram a Argentina, Peru e Equador. O resultado disso tudo é que dos
dezesseis participantes apenas treze compareceram ao Brasil.
Entretanto, aqui no Brasil, ninguém dava bola para as ausência, a não ser,
evidentemente, os dirigentes da CBD, sempre preocupados com um fracasso
financeiro. O torcedor, o povão, só pensava mesmo era na nossa seleção, cujos
treinos começaram com uma antecedência de quatro meses antes da estréia.
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