Ademar Pimenta - o técnico da Copa do Mundo de 1938
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A foto mostra parte da delegação brasileira na porta do
hotel,na França. Observem no alto do lado esquerdo desta foto. Os jogadores
Nariz e Luizinho estão sem uniforme e conversando com dirigentes.
Para a seleção brasileira, a Copa do Mundo de 1938 foi cheia de problemas que
impediram um melhor rendimento da equipe. O técnico foi Ademar Pimenta que, em
entrevista a Manchete Esportiva, contou os grandes problemas que enfrentou.
“Escolhi o que de melhor tinha no futebol brasileiro. Na época, dirigentes,
clubes e imprensa insinuavam quem deveria ser convocado. Venci essa etapa. Na
véspera do embarque, fiz uma reunião com o pessoal e disse que não admitiria
mulheres na delegação. Quando, já no cais, o chefe da delegação veio me explicar
que as mulheres de Nariz e Luizinho viajariam com a delegação. O que eu podia
fazer naquela altura ? A determinação partiu das autoridades. E com aquele
contratempo rumamos para a Europa”.
“A escala determinava uma parada em Salvador. Nessa cidade, Tim e Patesko usaram
e abusaram de bebidas alcóolicas. Pedi o desligamento dos dois e não fui
atendido. Seguimos nossa viajem e quando chegamos a França fomos para o Hotel.
Os quartos destinados aos jogadores ficavam nos fundos do Hotel. Nariz, Luizinho
e suas mulheres, mais os dirigentes, ficaram na ala central do Hotel, fora
portanto, do nosso controle. Eles tomavam vinho às refeições, não tinham horário
nem regime. Os outros jogadores não gostaram desse privilégio e o clima não
ficou bom. Minha intenção era colocar para o jogo de estréia a ala Tim e Patesko.
Quando fui procurá-los encontrei os dois bebendo chope. Chamei Castelo Branco,
chefe da delegação, fomos ao restaurante e os jogadores continuavam com uma
pilha de chopes. O dirigentes não disse nada nem tomou nenhuma providência”.
“O zagueiro Nariz, acadêmico de medicina, era o médico da delegação. Ele
dispensava jogadores dos treinamentos, principalmente o companheiro Luizinho e a
dupla Tim e Patesko. Às vésperas do segundo jogo fiquei sabendo que não poderia
contar com o centro avante reserva Niginho. Ele estava impedido de atuar pela
Federação Italiana, pois ele ainda estava vinculado ao futebol da Itália. Ai
perdemos a copa. Fizemos dois jogos contra a Techecolováquia em dois dias. Um
empate e uma vitória. No segundo jogo lancei todo o time reserva, menos Leonidas
que não tinha substituto. E Leonidas se contundiu. Até chegar o jogo com a
Itália eu tinha esperanças de contar com Leonidas. Ele ficou horas e horas numa
banheira de água salgada tentante se recuperar. É mentirosa a versão de que ele
não quis jogar. Não jogou porque não podia. Quando a noticia chegou aos
jogadores foi um grande decepção. Leonidas era a nossa bússola. Perdemos por 2x1
e ficamos em terceiro lugar depois de vencer a Suécia no jogo seguinte. Com
relação ao pênalti de Domingos da Guia, que muitos afirmam que o juiz errou,
posso dizer que realmente houve a penalidade máxima. Piola provocou o nosso
zagueiro que perdeu a cabeça e, numa bola dividida, chutou o artilheiro
italiano. Poderíamos ter ganho a copa de 1938, mas a desorganização e os
privilégios de certas pessoas da delegação, nos tirou todas nossas chances de
vencer”.
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