O fracasso da Seleção brasileira em 1966
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Em 1963,
a seleção brasileira realizou uma temporada pela Europa e não teve bons
resultados. O pior deles foi em Bruxelas, contra a Bélgica. Seus jogadores não
eram tão brilhantes, mas muito bem preparados fisicamente para correr o dobro e
preencher todos os espaços do campo. O conjunto e a condição física eram as
armas dos belgas que golearam o Brasil por 5x1. Os brasileiros bem dotados
tecnicamente como Djalma Santos, Zito, Mauro, Mengalvio. Dorval e Zagalo,
pararam diante da força e da aplicação tática da seleção da Bélgica.
Quando a seleção brasileira começou seus treinamentos físicos, eles foram de tal
forma negligentes que o responsável já não era mais Paulo Amaral ou qualquer
outro com experiência em preparação física em algum time de futebol. O escolhido
foi Rudolf Hermanny, um especialista em treinar praticantes de Judô e karatê.
Muita coisa mudou na seleção brasileira, além do preparador físico. A própria
cúpula, tão coesa em 1958 e 1962, desentendia-se por motivos inteiramente
alheios ao futebol. João Havelange e Paulo Machado de Carvalho não se entendiam.
A vaidade da cartolagem não permitiu que o “Marechal da “Vitória” continuasse no
cargo. O certo, porém, é que, os paulistas não souberam se manter no poder. Por
omissão, por excesso de confiança ou politicagem. Os erros começaram com a
desastrosa temporada pela Europa em 1963. O treinador Aymoré Moreira, um grande
estrategista mas um péssimo político, tentou promover uma renovação em massa na
seleção, e não deu certo. Humilhantes derrotas somente serviram para queimar
bons valores que vestiam a camisa amarela pela primeira vez.
Mesmo sem Paulo Machado de Carvalho na chefia da delegação, Vicente Feola
aceitou retornar a seleção. Só que, sem uma boa retaguarda, Feola sofreu
pressões de todo lado e acabou chamando um numero absurdo de jogadores para um
período de três meses de treinamentos. Nada menos de 45 jogadores dos principais
clubes do Brasil, mais Amarildo que jogava na Itália. Com tanta gente não foi
possível montar uma equipe. Feola dividiu os jogadores em quatro equipes: Azul.
Verde. Branco e Grená.
Durante três meses, a seleção perambulou por várias estações de águas diferentes
em São Paulo, Rio e Minas, uma estúpida maneira de fazer política de boa
vizinhança. Jogando apenas entre si, o atletas convivia com o fantasma no
“corte”. Desta forma, a seleção era um grupo exausto e desunido. Um rascunho de
um time de futebol. Muitos jogos foram realizados. Começaram em Caxambú, Minas
Gerais e terminaram em Malmoe, na Suécia. Três meses de treinamento e Feola
ainda não tinha uma equipe ideal para disputar uma Copa do Mundo.
Sintomaticamente, todos os membros da comissão técnica andaram renunciando e
reconsiderando sua decisão em plena Inglaterra. Feola, desanimado e frágil, não
sabia como escalar o time. Entre os veteranos, lá estavam Gilmar, Djalma Santos,
Orlando, Belini, Zito e Garrincha, cujas pernas tortas já não eram tão magicas
como quatro anos antes. A artrose que ele tinha no joelho há muito tempo não lhe
permitia mais completar, com a mesma precisão, aqueles dribles pela direita.
Feola pretendia utilizar Garrincha, ou melhor, a presença do Garrincha, como uma
arma psicológica. Quanto aos novatos, Tostão e Alcindo, convocados para agradar
Minas e Rio Grande do Sul, terminaram se impondo e garantindo seu passaporte
para a Inglaterra.
O Brasil caiu num grupo reconhecidamente difícil. Estreou contra Bulgária e
venceu por 2xO, com gols de Pelé e Garrincha, ambos na cobrança de faltas. Na
seleção se refletia a desorganização de toda comissão técnica. Feola e Carlos
Nascimento raramente chegavam a um acordo com relação a escalação do time.
Nossos jogadores tinha problemas médicos, músculos cansados, minados, frouxos.
Amarildo, vitima de uma distensão em Estocolmo, onde o Brasil fez dois
amistosos, foi cortado antes de chegar a Inglaterra. O zagueiro Fidelis também
estava machucado. Zito não tinha condições de entrar em campo. Pelé, com dores
musculares, não enfrentou a Hungria. O resultado deste jogo foi um desastre
total: Hungria 3x1. Para continuar na Copa, dependíamos de um bom resultado
contra Portugal. Neste jogo, jogamos com uma seleção totalmente diferente e
voltamos a perder por 3x1, dando adeus a Copa da Inglaterra. Os portugueses
chegaram com tranqüilidade a uma vitória sem nenhuma contestação. Para se ter
idéia da desorganização da Brasil nesta Copa de 1966, basta dizer que, Vicente
Feola, utilizou durante três jogos, vinte jogadores.
Para muitos o culpado tinha um nome: João Havelange, presidente da CBD, e já
sonhando com a presidência da FIFA. Havelange desprezou a força de caráter de
Paulo Machado, para ele próprio assumir a chefia da delegação brasileira que
lutaria pelo tri campeonato. Tinha certeza do sucesso do Brasil. Queria
capitalizar, sozinho, os lucros dessa conquista. No final das contas, restou-lhe
a patética incumbência de se responsabilizar, publicamente, pela vergonha da
eliminação prematura.
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