Gilmar - A camisa de numero 13

- Ei, cadê a camisa 13 ?
O grito de espanto percorreu rapidamente o pequeno vestiário do estádio de Rasunda, em Estocolmo. A pergunta seguiu-se uma sensação geral de ansiedade em que todos aqueles jogadores que começavam a se preparar para o jogo final contra os suecos, na Copa de 1958.

Mas qual seria o segredo da tal camisa 13, cuja falta fazia tremer aqueles homens que duas horas depois iriam assombrar o mundo com sua mágica habilidade e eficiência, numa aula definitiva sobre a suprema arte de se jogar futebol ? Por que Mário Trigo não contava mais suas piadas ? Por que Zito, Didi, Nilton e Djalma Santos ao conseguiam esconder sua intranqüilidade ? E onde estavam as otimistas palavras do Paulo Machado de Carvalho e seu inseparável terno marron ?

O ambiente de descontração e confiança tinha desaparecido. E tudo começou exatamente no momento em que aquele moço de 28 anos, dois anos como titular da seleção, chamado Gilmar, iniciava a velha rotina de vestir seu uniforme: meias cinza, calção e camisa de lã azuis. Tudo estaria bem se não fizesse frio. Mas ele queria a camisa que o protegia das baixas temperaturas suecas, desde da primeira partida. A supersticiosa e até então vitoriosa camisa treze.

O corre-corre estava armado. E o roupeiro Assis, ameaçado: se o Brasil perdesse o jogo decisivo, a culpa seria dele. Afinal, cadê a camisa 13 ? Onde já se viu esquecer a camisa que nosso goleiro usava por baixo do blusão azul ? Bem que Gilmar tentou argumentar que superstição não ganha jogo, que jogaria com qualquer camisa, que o problema era de frio, não era de numero. Mas a própria cúpula da delegação insistia em manter a tradição. Era demais: o time entrar desfalcado assim, sem as camisas amarelas, com o campo molhado e ainda mais sem a 13 do Gilmar.

O próprio Gilmar comentou anos depois – “Foi quando eu dei a sugestão. Se o caso é esse, vamos pegar a camisa três amarela e botar o numero um na frente, com esparadrapo. Dei a idéia mais para que o ritmo não fosse quebrado, para que a superstição não influísse negativamente. Uns acharam que não, que o ideal seria a camisa dos outros jogos, mas no fim, sem maiores alternativas, todos concordaram que, com esparadrapo, a camisa 13 estaria ali, firme e forte outra vez!”. E foi assim que Gilmar entrou em campo para disputar o jogo mais importante de sua vida.

Na lista dos jogadores brasileiros que iriam participar da Copa do Mundo de 1958, o goleiro Gilmar tinha o numero 3. Castilho tinha o numero 1 e Mauro o numero 13.

 

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