Bigode - Quer distancia do maracanã
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Foi aos 36 minutos do
segundo tempo: Obdulio Varela apanhou a bola no meio do campo e jogou na ponta
direita para Gighia. Gighia dominou Bigode na corrida e começou a correr. Para
Bigode, mestre no carrinho, era fácil atirar-se por trás e tirar a bola ou pelo
menos fazer uma falta. Mas Bigode continuou apostando uma corrida inútil,
inexplicavelmente. Talvez esperasse dar um passo a mais, para tirar a bola sem o
risco de cometer nenhum infração. Talvez esperasse que Juvenal viesse em seu
socorro. Assim, Gighia entrou pelo bico da grande área e chutou: 2x1 para o
Uruguai.
Nenhum outro jogador, entre os onze que perderam a Copa de 1950, sofreu tanto
quanto Bigode. A fama de covarde correu pelo país inteiro, com a mesma rapidez
com que haviam se espalhado os gritos antecipados de “Brasil campeão”. Ele
esperou as duzentos mil pessoas deixarem o maracanã e, quando já era noite, foi
de ônibus para casa. Não dormiu: reviveu os lances do jogo, gravado na memória,
principalmente a jogada de Gighia. O dia seguinte chegou e ele não fez nada.
Simplesmente ficou esperando que alguma coisa acontecesse. E aconteceu. Os
comentários de rádios e jornais eram para culpa-lo pela derrota.
Quando foi convocado jogava pela Flamengo. Depois voltou para o Fluminense e, em
1956, encerrou uma carreira de 15 anos. Em 1965, as mesmas seleções do Brasil e
do Uruguai voltaram ao maracanã para um jogo de confraternização. E, embora
Obdulio tivesse insistido para que Bigode comparecesse, ele não apareceu. Desde
de 1950 que o maracanã não era um lugar agradável para ele. O maracanã e as
pessoas continuavam achando que Bigode perdeu a Copa sozinho.
(reportagem com Bigode antes do seu falecimento)
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