A hora e a vez de Zagalo em 1970
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No dia 18 de março se verificou que, da comissão técnica da seleção
brasileira, somente João Saldanha e Adolfo Milman haviam sido afastados.
As demissões foram apenas um pretexto para tirar Saldanha do comando da
seleção. Enquanto se procurava outro técnico, Chirol dirigia os treinos.
Afinal, dali por diante, não precisariam mais do João Sem Medo. O
caminho para a Copa estava aberto. Naquele momento tudo era questão de
organização e paciência, de talento futebolístico e muita habilidade
dentro e fora do campo.
A nova fase da seleção começou com Havelange convidando Dino Sani para
dirigir a seleção. Dino impõe condições que não são aceitas pela CBD.
Oto Glória também recebe convite e recusa. Entretanto, na Praia
Vermelha, Zagalo recebe convite de Antônio do Passos e aceita
rapidamente. Ele assumiu no mesmo dia e começou com altos e baixos. Na
parte tática, procurava preservar sua tradicional teimosia, na
inclinação por um futebol pouco ofensivo. Ao mesmo tempo, dava provas de
flexibilidade ao fazer novas convocações. Além de Leonidas, Arilson e
Roberto Miranda, veio o craque do presidente Medici, Dario. Os dois
primeiros terminaram sendo cortados. Durante os treinamentos Zagalo
escalou o ataque com Jairzinho. Roberto. Pelé e Paulo Cesar Caju. A
imprensa perguntava – “E Tostão? “. O treinador declarava que ele era
apenas o reserva de Pelé. No seu time não havia lugar para dois gênios
da bola. No jogo contra a Bulgária, Zagalo começou com Tostão que depois
foi substituído por Pelé. A seleção não se encontrou e o resultado foi
de 0x0 com Paulo Cesar Caju levando a maior vaia da história do Morumbi.
Paulo Cesar estava pagando pelo irredutível apego do técnico ao sistema
de 4-3-3. Praticamente não havia jogadas de ataque. O torcedor
brasileiro começou a sentir que com aquela formação, o Brasil não iria
muito longe na Copa do México.
Ainda haveria um jogo no maracanã contra a Áustria. Era a ultima chance
de reestruturar a seleção. No dia 28 de abril, no Palácio Guanabara,
aconteceu a recepção de despedida da seleção que embarcaria para o
México no dia primeiro de maio. Lá estava a imprensa e personagens no
mundo político e desportistas. Quando Zagalo saiu da solenidade já tinha
um novo ataque para a seleção enfrentar a Áustria: Jairzinho. Pelé.
Tostão e Rivelino. Na véspera da partida de despedida, no quarto de
Pelé, se reuniram com ele, Gerson, Clodoaldo, Tostão e Rivelino.
Conversaram mais de uma hora. Depois, papearam com Zagalo. Gerson seria
o comandante dentro do campo. Ele gritou, orientou, comandou e instruiu.
Foi um verdadeiro técnico dentro das quatro linhas. Daí para frente, o
improviso substituiu a rigidez dos esquemas. O time brasileiro não
voltou a inflexível formação de 4-3-3. Do ponto de vista tático, se dava
um grande passo para a vitória.
A preocupação era com a altitude do México. Para contornar essa
preocupação o capitão Lamartine elaborou um plano para superação do
problema. Sob muitos aspectos, a seleção de 1970, deu uma demonstração
de uma atitude racional em relação ao futebol. A preparação física foi
bem dosada e, graças a ela, os jogadores conseguiram chegar a fase final
em excelente condições.
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